O Adulto Aprendendo um Idioma

Esta postagem é sobre coisas que tenho observado ao longo desses 10 anos em que tenho dado aulas de inglês para adultos.

Ao se ensinar um idioma, especialmente para adultos, tem-se a impressão de que eles trazem para a sala de aula suas angústias mais escondidas. A sala torna-se um pouco de terapia em grupo e um pouco de sala de aula do primeiro ano. E estas são algumas coisas que aprendi sobre eles:

• Adultos não gostam de errar. Muito menos em público. É comum também que eles não gostem de admitir que se esqueceram de fazer lição de casa, então, costumam ter uma lista de justificativas na ponta da língua sobre quão ocupados estavam.

• Adultos não gostam de ser pressionados. Pode haver 10 pessoas em uma turma, cada uma com seu ritmo, mas nós precisamos fazer com que todos sintam que estão no mesmo.

• Adultos comparam-se (e muito!) com os outros. Acho que, devido ao mercado de trabalho, adulto aprende a sempre estar alerta quanto ao desempenho do cara ao lado. E eles notam sim. Em pouquíssimas aulas, já ocorre uma classificação dos “melhores”. E há algo de interessante nisso. Eles procuram por quem mais se destaca. Os demais, eles não classificam; simplesmente definem como estando no “mesmo barco”. Isso os faz se sentir melhor.

• Adultos chegam à primeira aula com a guarda alta. Ainda mais quando começam do primeiro estágio. O desconhecido (a escola, a turma, a metodologia, o professor, etc.) incomoda. De início, é importante fazer os alunos se unirem. Quando eles ficam confortáveis com a turma, é mais fácil fazê-los acreditar no professor. Apenas quando eles acreditam no professor e estão com a guarda baixa é que fica possível corrigi-los sem criar pânico, sem ferir sentimentos e sem causar desistências. E mais, apenas quando eles estão à vontade é que dá para pensar em uma atividade lúdica (e realmente útil para quem quer evitar que eles traduzam palavras novas) como a mímica. Antes disso, esquece. Eles não vão se mexer de sua carteira, como se fosse sua boia salva-vidas.

• Por fim, adultos querem resultados. Alguns acreditam de verdade que, se estiverem pagando o curso e indo a algumas aulas, eles vão aprender. Se não, a primeira pessoa sobre a qual vão questionar a competência é o professor. Depois, colocarão a culpa na “metodologia” da escola. Alguns dirão que a vida está muito complicada e que voltarão depois. Mas, infelizmente, poucos realmente se dedicam como deveriam.

Não existe mágica, pílula ou metodologia que faça alguém aprender de forma passiva. Existe empenho. Afinal, estamos falando de aprender outra língua. Então, gosto de ter uma conversa muito franca com os alunos no início e no fim do semestre: pé no chão e esforço! Essa é a receita.